24.7.09

Ai...ai...os eagles e a minha idade!!

Ai...ai...os Eagles e a minha idade!!

Quando a minha filha era pequena e a levava ao pediatra, nas consultas absolutamente rotineiras que nos primeiros meses eram mais assíduas e mais tarde mais esporádicas, recordo-me de um determinado dia de consulta, já mais espaçada no tempo, o pediatra ter comentado, mal ela entrou no consultório, comigo pela mão ( Sim. Comigo pela mão; nós achamos que não, mas desde que nascem, são de facto os nossos filhos que nos levam pela mão; andamos sempre atrás deles; quando correm, quando exploram o espaço circundante, quando apontam e os levamos para esse indicador de direcção, quando vão para a escola, depois liceu e por aí adiante...):
“- Estás enorme!!! Não tenho filhos e cada vez que vejo os filhos dos meus amigos ou então estes meus pacientezinhos , reparo o quanto estou, mais velho!!”

Pois... conscientemente, não temos a noção dos anos passarem por nós. Lidamos todos os dias ao espelho com uma imagem que se vai alterando ano após ano, de forma gradual. Olhamos os nossos amigos e pensamos, ( sim, ficamos só no pensar porque se o falamos vai parecer indelicado...) “Meu Deus, está tão envelhecido...o tempo deixou marcas no rosto, no diâmetro da barriga...ai...ai” e continuamos “ eu estou muito bem...nem pareço da idade dele...” Enfim...aos nossos próprios olhos, alteramos muito pouco. Apesar de me olhar todos os dias ao espelho e achar que ainda não estou parecida com a minha mãe, ( tenho presente uma passagem do livro O amor em tempo de cólera de Gabriel Garcia Marquez em que a determinada altura o personagem Florentino Ariza reconhece que está a ficar velho quando se olha ao espelho e nota que está cada vez mais parecido com o pai) bom, sempre disseram que sou muito mais parecida com o meu pai; não sei se para o efeito é bom ou mau, mas enfim; reconheço que alguns anos já passaram por mim. Não interessa quantos. A minha filha todos os dias me lembra isso, com um simples bom dia. Ela é a prova mais que provada, que os anos passaram. Já tem 20 anos. Mas, fica tudo no ar de forma velada...

Só que, ás vezes, acontecem momentos que nos mostram o passar dos anos, de uma forma clara e aí pensamos: “ai...ai...como o tempo passou e eu estou mais velha!”

Na última quarta-feira, tive um momento desses.

Vi um concerto fantástico. Gostei, francamente. Os EAGLES: Saudoso Hotel Califórnia ( ouvido em 78/79 para lá da madrugada, á volta de um aparelho de cassetes portátil, em que toda a gente sabia a letra, numa qualquer rua da Aroeira com nome de pintor ,quase até ao nascer do dia, que o meu pai não era para brincadeiras e quando ele chamava, era um corre, corre até á porta de casa...) o Take it to the limit ( que era o que mais queríamos fazer naquela adolescência vivida no tempo certo, sim, porque hoje, os jovens, prolongam-na mais e, chega a ir até aos 29 anos...) o Desperado, (que era como eu ficava quando o meu pai gritava o meu nome ás altas horas da noite, no silêncio incómodo, próprio das madrugadas). Absolutamente fantástica esta noite de um rewind de memórias, saudades e uns fortes ais...
Os anos passaram, mas a qualidade das vozes quase que nos parecia a mesma de há trinta e tal anos atrás. A música é de facto intemporal. Acredito que também daqui a trinta anos, a minha filha, que estava connosco no concerto, vai ouvi-la, lembrar-se e continuar a gostar do som.
Um público, maioritariamente da minha idade, sem dúvida, fez-me olhar ao espelho e admitir que de facto estou mais velha, sem ser preciso ver-me parecida com o meu pai ou com a minha mãe, tal personagem de ficção...

A senhora ( sim, senhora, dantes seria "a jovem"...) ao meu lado, vestida a condizer com o momento, já não anda de calças de ganga, gastas e sujas de tanto se arrastarem no chão a curtir um som e um momento; O senhor,(sim, senhor, dantes seria "o jovem") duas filas acima, que constantemente dava mostras de uma noite memorável ( acredito que deve ser um fã incondicional...) e arrastou a mulher - pelo rosto só podia ter ido arrastada - (deduzo que fosse um casal porque o público ia maioritariamente aos pares. Eu, era um triângulo: o meu marido, a minha filha e eu... ) também ia vestido de forma informal e, provavelmente, seria aquele que contestava o momento em plenos anos oitenta ao andar de cabelo comprido e charro ( não sei se na altura se chamaria assim, sinceramente não me lembro J) no bolso. Enfim...
Eu, a determinada altura, levada pela emoção, num momento de puro êxtase ao embalo do som das guitarras enquanto ouvia o Hotel Califórnia, arrisquei e comentei com a minha filha: “ Bem filha, o que eu curti com o teu pai, ao som desta música...” e ainda acalentada pela lembrança, levei de rajada:” Por favor, mãe, poupa-me a esses pormenores”...

ai...ai... o tempo voou... e eu...enfim, eu, I can tell you Whi ...

1 comentário:

  1. Está lá agora a ficar velha! Quem lhe disse isso? Se estivesse a ficar velha não ia curtir tanto os Eagles como curtia há quase 30 anos... ;) Até seria capaz de ouvir mas... já não ia aproveitar cada música que cantavam ou então ainda ficava a pensar "as coisas que eu fazia na altura, que tristeza" e não foi o caso :)

    Beijos!

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