18.8.09

Os silêncios...


Ainda neste meu estado pacifico de perfeita quietude, irritante, cansativo e acima de tudo obrigatório, há momentos de ruído a mais e outros de um profundo silêncio que não sendo incomodativo é assustadoramente permissivo a determinados instantes de completa solidão…

E a culpa ( se é que se pode dizer que há um culpado…) é da minha perna, que continua quieta e estendida, ligeiramente levantada devido ao inchaço.

A rotina continua para quem me rodeia. O marido no trabalho, a filha em férias; devido a esta minha dependência, deixa-me “servida” e, naturalmente, porque ela não tem que estar obrigada a ficar comigo metida em quatro paredes o verão todo, vai ter com os amigos e diverte-se o mais possível que é o que se deve fazer nestas idades.

Logo, estou a maior parte do dia sozinha. Mas não estou em solidão, note-se! Porque bem pior do que se estar sozinha é estar-se em completa solidão, mesmo estando rodeada de gente por todos os lados…quem me procura sabe do que falo.

Enfim… vou passando os meus dias nesta inércia, somente interrompida pelo movimento dos meus olhos quando os desloco deste ecrã para o televisor e, vice versa… ah! E quando vou ao wc. Mas há alturas em que isto é insuportável. A minha perna já começa a dar sinais de melhoras o que por um lado é muito bom, mas por lado outro ainda acentua mais o desejo de me autonomizar, mas não posso. O repouso obrigatório é de 6 semanas. Sabem, quando se está num estado como o meu, não é só este membro que fica limitado, são também os braços e as respectivas mãos que estão ocupadas com as canadianas ou andarilho ou whatever. Felizmente, já me começa a voltar a vontade de ler. Ufa!! Estava a tardar. Parecia que o cérebro, também ele, tinha ficado incapaz de funcionar. Começou a assustar-me a sensação de que eu não estava a conseguir pensar ou a auto analisar o que estaria a sentir. Precisava de um momento de silêncio e solidão para poder tranquilamente organizar o meu espaço mental segundo o meu espaço físico actual. Obriguei-me a isso.
Enquanto se desenrolava este processo, lembrei-me de um poema que escrevi quando alguém, sem nome, no meu consultório, um dia se confrontou com um momento infinito de silêncio e comentou: “É tão incómodo o silêncio! Não sei o que faça com ele”

Escutar a solidão

O silêncio que incendeia,
que alimenta e ateia,
o medo,
a dor,
a mágoa,
e o desalento
do momento...
E fica-se só!

Escuta-se a alma,
o coração que teima em bater,
e o sangue que teima em correr...
Ouve-se o vento
na pele,
no pensamento
e, até um morrer...
E continua-se só!

Há pavor, sofrimento...
E foge-se a esse tormento,
no som,
na música,
no ruído,
na voz,
no tom,
que não deixa de ser um lamento,
da solidão de todos nós...

2 comentários:

  1. Olá Aninhas
    6 semanas passam num ápice e contigo não há silêncio que resista.
    Bjs :))))

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  2. Olá! Estou a ler um livro muito bom e quando li uma parte do livro lembrei-me do teu blog. Vou partilhar contigo. "...uma dose de solidão estimula a reflexão, mas a solidão radical estimula a depressão... quando o mundo nos abandona, a solidão é tolerável; mas, quando nós mesmos nos abandonamos, ela é insuportável..." bjs

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